6 de março de 2008

A VIDA NA PLENITUDE DE CRISTO


COLOSSENSES 3:1-17
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Neste novo capítulo da Epístola aos Colossenses, o Apóstolo Paulo deixa de explicar a plenitude de Cristo para descrever a plenitude da vida cristã. E, em primeiro lugar, ele enfatiza que a vida plena é focalizada inteiramente no Cristo pleno, vs. 1-4. Tendo morrido com Cristo e tendo sido sepultados com Cristo, agora fomos ressuscitados com Cristo; estamos escondidos com Cristo, e nos manifestaremos com ele. Cristo, de fato, é a nossa vida.
Este parágrafo tão breve, mas tão rico, mistura declaração, exortação e promessa em três encorajamentos para se viver a vida cristã nas suas maiores alturas.
O primeiro encorajamento se constitui em focalizar o alvo da vida em Cristo. O Apóstolo Paulo conclui seus argumentos expostos no capítulo anterior assim dizendo: “Portanto, se vocês já ressuscitaram com Cristo, procurem as coisas que são do alto, onde Cristo está assentado à direita de Deus", v. 1. Buscar as coisas lá de cima é nada mais do que ser coerente com a convicção de que Cristo fora levantado muito acima das coisas terrenas. Isto é, Paulo aconselha a todos os cristãos orientarem todos os alvos de sua vida mediante o Cristo exaltado e focalizarem a inclinação emotiva do seu ser em tudo que está a direita de Deus.
O segundo encorajamento é focalizar a mente em Cristo, inclusive as afeições, a vontade, a disposição. Ele diz: "Mantenham o pensamento nas coisas do alto e não nas coisas terrenas” v. 2. Este é o mais forte dentre todos os apelos para todos os cristãos “pensarem espiritualmente”. A orientação de Paulo é para que os pensamentos sejam colocados em um plano elevado, para que os cristãos aprendam a pensar espiritualmente, deixando para trás a preocupação pura e simples com a matéria. A importância que tinha para Paulo aquilo que enche a mente do crente pode ser entendido lendo-se: Rm. 8:5; 12:3,4,16; I Co. 13:11 e Fl. 2:5; 3:19; 4:8. Paulo recomenda que a busca das coisas lá de cima seja sustentada apenas por uma mente alimentada pelas coisas de cima. Onde está Cristo, o nosso tesouro, ali também deve estar o nosso coração.
O terceiro encorajamento é focalizar a nossa esperança em Cristo, e isto é expresso por três afirmações:
1ª) “Cristo é a nossa vida” – não simplesmente a nossa vida eterna, ou o doador da vida, mas a essência da vida. Ele diz: “Porque para mim o viver é Cristo”. Esta é a afirmação mais suscinta de uma verdade que se encontra por toda a parte do Novo Testamento: de que a vida cristã é vida inteiramente concentrada em Cristo: morto, ressuscitado, vivo, glorificado e vindo.
2ª) “Cristo se manifestará, será conhecido abertamente”. Ao voltar-se do passado para o futuro, da experiência conhecida para o fim previsto, Paulo mais uma vez focaliza tudo em Cristo. O nosso futuro será brilhante devido à manifestação dele. E, novamente...
3ª) “vós vos manifestareis com Ele em glória”. Tão certamente quanto o fato de a vossa vida estar escondida com Cristo enquanto ele está escondido, oculto, também vós sereis manifestados com ele quando ele se manifestar (I Ts. 4:13-18; I Jo. 3:2; I Co. 15:51-56).
A vida cheia de Cristo, portanto, é vida cheia com Cristo: os seus objetivos, sua mente, sua esperança, tomados de Cristo tão plenamente que todas as coisas que são da terra se reduzem a proporções anãs. Estas afirmações são paradoxais: como Cristo, o crente morreu, e contudo, permanece vivo. Ele está “morto” em um nível, em uma série de relacionamentos, por um ato deliberado de identificação com Cristo, que morreu para o pecado e pelo pecado; ele está vivo em outro nível, em outra série de relacionamentos, por deliberada apropriação de Cristo, que é a sua vida.
1. DESPINDO O QUE NÃO É CRISTÃO
A vida cheia de Cristo obviamente não pode ao mesmo tempo ser cheia de coisas que não “contém” Cristo, vs. 5-11. A tripla afirmação de que os crentes “morreram” seguida da exortação para exterminar as coisas carnais, parece, para algumas pessoas, uma metáfora violenta demais (o original diz “matar”). No entanto, Paulo bem sabia que, embora a conversão incluísse uma mudança total de direção moral, ela não era garantia de santidade instantânea (Fl. 3:12). O fato é que a mudança radical experimentada na natureza anterior precisa ser efetuada no caráter e na conduta do novo cristão.
O que acontece na conversão não é apenas uma mudança de condição, em princípio. O verbo aqui usado, “exterminai”, indica uma reorientação radical, como uma morte, uma despimento do “eu” anterior, uma mudança de rumo, um novo nascimento, em um ponto definido da experiência, e como tendo conseqüências permanentes. Mas o novo “eu”, desejando novas coisas, entesourando uma nova natureza, aceitando novos recursos e vivendo em um novo mundo (em Cristo), precisa agora edificar o novo caráter, apropriado a essa modificação, e “efetuar a salvação”.
Assim, de forma bastante didática, o Apóstolo Paulo cita alguns itens que ele considerava importantes para exemplificar a mudança que precisava ser feita na conduta daquele que já permitira que Jesus o transformasse interiormente. O novo “eu” deveria desejar novas coisas e precisaria haver um rompimento com aquilo que lhe era familiar antes de se aproximar de Cristo, aquele que está assentado à direita de Deus e a quem deve ser o objetivo do cristão imitar.
Quais seriam, então, essas coisas? Vejamos a lista de pecados que devem ser exterminados de nossas vidas:
Em primeiro lugar, Paulo menciona os vícios morais, que são as ações que procedem do exterior e que afetam o interior, quais sejam: prostituição (fornicação), impureza (indecência, contaminação moral), paixão (lascívia, excessos sexuais, perversão), vil concupiscência (ambição insaciável de prazer sensual), avareza (ambição por algo mais), que é igual a idolatria (fazer das coisas terrenas um deus). A sensualidade e a cobiça eram pecados que os pagãos praticavam sem qualquer censura moral naquela época.
Em segundo lugar vêm as deformações do caráter. A orientação é introduzida pela expressão “mas agora”, que nos lembra a relação entre a velha natureza e a nova que agora aqueles cristãos já possuíam. Mas agora, ele diz, abandonem todas estas coisas: ira (explosão do mau gênio humano), cólera (indignação), malícia (mal moral, maldade, danos feitos à sociedade), maledicência (blasfêmia, difamação do caráter humano), palavra torpe (linguagem abusiva ou indecente), mentiras (não dizer a verdade). Depois de identificar os erros da vida pagã, Paulo menciona também os chamados “pecados orais”, ou aqueles oriundos das palavras que são proferidas sem que haja a correspondência de verdade, pertinência, seriedade, decência. Três pecados orais são mencionados aqui: o que flui de palavras ociosas, palavras tolas e palavras que ferem.
Em terceiro lugar, devemos exterminar as barreiras da comunhão. Paulo diz que: "Nessa nova vida já não há diferença entre grego e judeu, circunciso e incircunciso, bárbaro e cita, escravo e livre, mas Cristo é tudo em todos”, v. 11. O novo homem, como Adão, é criado para comunhão. Os sentimentos e conversas anti-sociais estão fora de cogitação, porque as velhas barreiras raciais, religiosas, culturais, sociais e sexuais desapareceram em Cristo. Paulo diz que em Cristo não pode haver antipatia racial, ou seja, “não há grego nem judeu”; não pode haver um antagonismo religioso: “circuncisão nem incircuncisão”; não deve ocorrer o desprezo cultural: “bárbaro ou cita”. Bárbaro expressa o desprezo que os gregos tinham pelas pessoas sem cultura; cita era sinônimo de “selvagem”. Na vida cristã não deve haver diferença social: “escravo ou livre”. O escravo, mera ferramenta viva, não tinha direitos nem lugar naquela sociedade. Poderíamos encerrar dizendo que também não pode haver lugar para a superioridade sexual: “Não há homem nem mulher” (Gl. 3:28). No entanto, todos podemos assentar-nos juntos em qualquer congregação cristã. As barreiras caíram; para todos igualmente, Cristo é tudo o que interessa. Cristo é tudo e está em todos – daí vir à existência um laço totalmente novo e imperecível de unidade social.
Aqui temos uma relação de pecados que nos assusta porque percebemos que ainda precisamos avançar muito para alcançar a vitória nos itens mencionados. Os novos cristãos precisam viver à altura de sua nova humanidade, despindo-se das coisas contrárias a Cristo e vestindo-se de Cristo.
2. REVESTINDO-NOS DE UMA NOVA NATUREZA

A vida plena em Cristo, segundo Paulo, implica em se revestir de uma nova natureza, do novo homem, em uma radical mudança de direção moral, vs. 12-17. Se é verdade que precisamos nos despir de hábitos tão perniciosos à comunhão na Igreja e ao bom testemunho do evangelho, também é correto dizer que devemos nos empenhar na busca por qualidades que dificilmente podem ser encontradas em vidas que ignoram a pessoa de Jesus e a sua mensagem.
Aqui está o oposto exato do verso 5: os que em princípios já se revestiram da nova natureza, do novo homem, em uma radical mudança de direção moral, são agora instados a se revestirem de cada item separado do novo caráter, em seis exortações minuciosas. Assim sendo, Paulo dá significado prático e pertinente à idéia de se “vestir” Cristo, e continua a ecoar a catequese da vida plena em Cristo.
Vejamos então quais são essas áreas importantes para a nova vida em Cristo.
Em primeiro lugar, devemos revestir-nos do caráter de Cristo, v. 12. A vida da comunidade, compartilhada por indivíduos que possuem diferentes dons, experiência e antecedentes, não obstante ligados em união no serviço de Deus demanda os lubrificantes sociais relacionados no verso 12 e seguintes. Precisa haver um coração compassivo (espírito de simpatia melosa), benignidade (generosidade de mente), humildade (reação não agressiva), mansidão (em face da injúria ou insulto), longanimidade (habilidade para suportar com paciência toda a desinteligência e oposição; disposição de agüentar as idiossincrasias dos outros por amor a comunhão). Fácil? Claro que não. Mas, tudo isto são coisas simples, contudo imensamente valiosas para a cooperação cristã. Não são a negação da força, mas a sua perfeição, como observamos essas atitudes no caráter de Cristo.
Em segundo lugar, devemos revestir-nos do exemplo de Cristo. Diz assim o apóstolo Paulo: “Suportem-se uns aos outros e perdoem as queixas que tiverem uns contra os outros. Perdoem como o Senhor lhes perdoou", v. 13. Uma disposição de reconciliação, e não para a vingança, é rara no meio evangélico; portanto, um novo e potente motivo é apresentado: “como o Senhor vos perdoou”. O perdão de Cristo é tanto modelo como o motivo (Mt. 6:12,15; 18:23), e sugere o benefício mútuo de um espírito perdoador, exercitado dentro da comunidade cristã.
Em terceiro lugar, devemos revestir-nos da Lei de Cristo. Paulo continua dizendo que: "Acima de tudo, porém, revistam-se do amor, que é o elo perfeito”, v. 14. O amor completa o equipamento social do cristão. O amor é o vínculo que une todas as pessoas em Cristo. Alguns manuscritos grafam “o vínculo da unidade” (conf. Ef. 4:3). A lei suprema de Cristo é o segredo da unidade coletiva, tanto quanto da perfeição espiritual; assim insiste todo o Novo Testamento.
Em quarto lugar, devemos revestir-nos da paz de Cristo. Paulo pediu aos irmãos Colossenses dizendo: “que a paz dirija e discipline a vossa conduta”, v. 15. A preservação da paz na comunidade deve ser um fator, um motivo controlador, na decisão de ações, e resolver desacordos entre irmãos. A paz interior deve ser uma responsabilidade coletiva e uma preocupação social. “Sede agradáveis, aprazíveis, de boa natureza”, complementa Paulo. Só quem não tentou realizar um trabalho cristão ao lado de cristãos desagradáveis, desinteressantes, pode dizer que tal exortação é desnecessária ou “muito fraca”. Tanto a paz interior com a paz comunitária dependem muito do esforço para ser agradável.
Em quinto lugar devemos revestir-nos da Palavra de Cristo. Paulo aconselha aos cristãos pedindo que: "Habite ricamente em vocês a palavra de Cristo; ensinem e aconselhem-se uns aos outros com toda a sabedoria, e cantem salmos, hinos e cânticos espirituais com gratidão a Deus em seu coração", v. 16. Como a paz, a Palavra de Cristo que em nós habita é tanto individual como social.
A palavra de Cristo é mais provavelmente o ensinamento de Cristo, ou a mensagem a respeito dele. Os três verbos usados por Paulo – ensinando, admoestando, cantando – indicam que ele estava pensando na adoração coletiva da igreja. O louvor, como a palavra, deve mover o coração do indivíduo. Contudo, mais uma vez a distinção dos três tipos – cântico sagrado, louvor festivo e solene – e o contexto do cântico, juntamente com a exortação mútua apontam, inconfundivelmente, para as reuniões de adoração.
Desde o início a igreja era dedicada a cânticos, e as freqüentes porções de hinos encontrados em o Novo Testamento confirmam este fato. Fica aqui, porém, uma advertência: o louvor cristão deve ser digno de Cristo.
Em sexto lugar, devemos revestir-nos do nome de Cristo. Concluindo esta parte, Paulo diz que, na vida dos novos cristãos: "Tudo o que fizerem, seja em palavra ou em ação, façam-no em nome do Senhor Jesus, dando por meio dele graças a Deus Pai", v. 17.
O contexto sugere que tanto as palavras quanto os atos que Paulo tinha em mente eram os da comunidade cristã, mas a conduta diária dos membros em particular era, sem dúvida, uma parte da atividade total dessa igreja. O seu motivo sustentador devia ser a gratidão. A sua qualidade devia ser determinada pelo nome do Senhor Jesus. Tudo precisa se feito em obediência à autoridade de Cristo. “Fazei tudo em nome do Senhor Jesus” propicia uma fórmula sucinta para uma ética situacional cristã: “tudo em amor” seria outra fórmula. Esta fórmula abrange todas as facetas possíveis do comportamento cristão e todas as situações concebíveis que demandam reação cristã, sob o único princípio: O que é digno para se aplicar o nome de Cristo. Isto por si só consagra todas as coisas vivas.
Uma vida assim adornada com o caráter de Cristo, modelada pelo exemplo de Cristo, sujeita à sua Lei de amor, governada pela sua paz, habitada pela sua Palavra, dedicada a ostentar dignamente o seu nome, de fato se revestiu da nova natureza, renovada segundo a imagem do seu criador. Um cristão e uma igreja que se caracterizarem por estas qualidades, com toda a certeza, participam de uma vida cheia de Cristo.
Que Deus os abençoe ricamente.

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