5 de julho de 2008

PERDIDO DENTRO DA IGREJA



Os três evangelistas Mateus, Marcos e Lucas trazem uma interessante narrativa sobre um certo jovem judeu, rico, porém incerto quanto à sua salvação. Diz as narrativas bíblicas:
Quando Jesus ia saindo, um jovem correu em sua direção e se pôs de joelhos diante dele e lhe perguntou:
- Bom mestre, que farei para herdar a vida eterna?
Respondeu-lhe Jesus:
- Por que você me chama bom? Ninguém é bom, a não ser um, que é Deus. Se você quer entrar na vida, obedeça aos mandamentos.
- Quais? Perguntou ele.
Jesus respondeu:
- Você conhece os mandamentos: Não matarás, não adulterarás, não furtarás, não darás falso testemunho, não enganarás ninguém, honra teu pai e tua mãe. E, Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
Disse-lhe o jovem:
- Mestre, a tudo isso tenho obedecido desde a minha adolescência. O que me falta ainda?
Ao ouvir isso, Jesus olhou para ele e o amou, e disse:
- Falta-lhe uma coisa, disse ele. Se você quer ser perfeito, vá, venda tudo o que você possui e dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro no céu. Depois, venha e siga-me.
Ouvindo isso, o jovem ficou abatido e afastou-se triste, porque tinha muitas riquezas (Mat. 19: 16 a 22; Mar. 10: 17 a 22; Luc. 18: 18 a 23).
Aquele jovem era um rapaz como qualquer jovem da igreja de hoje. Era membro de uma congregação cujos líderes se preocupavam muito com normas, leis e regulamentos. "Não pode fazer isto". "Não pode fazer aquilo". "Fazer isto é pecado". "Fazer aquilo também é pecado".
Aquele jovem cresceu tendo um conceito errado de Deus. Imaginava-O sentado no Seu trono de justiça, ditando regras, com o rosto sério e uma vara na mão, pronto para castigar o desobediente. Desde pequeno seus pais e os líderes da igreja exigiram o fiel cumprimento de todas as normas. Eram líderes preocupados com a imagem da igreja. O que realmente importava para eles era que as pessoas cumprissem as normas, que fossem bons membros de igreja e nada mais. O jovem rico aprendeu desse modo a cumprir todas as normas e leis.
Aparentemente era um jovem bem comportado, ativo na igreja, participava das programações e cultos, podia ser apontado como exemplo para outros, mas alguma coisa estava errada: não era feliz, tinha a sensação de que estava perdido apesar de cumprir tudo.
Certo dia anunciaram a chegada de Jesus à sua cidade. A história está registrada nos evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas. Os líderes da igreja, ainda preocupados somente com o cumprimento rígido das leis, foram os primeiros a sair ao encontro de Jesus. O registro sagrado narra assim: "E, aproximando-se dele os fariseus, perguntaram-lhe, tentando-o: É lícito ao homem repudiar sua mulher?" (Marcos 10:2). Você percebe a inquietude daqueles líderes? Sua grande preocupação era apenas com os detalhes.
Seria possível que hoje os líderes também caiam no mesmo erro? "É pecado cortar o cabelo?" "É pecado orar assentado?" "É pecado ter um pátio de recreações ao lado do templo?" "É pecado ir à praia?" “É pecado a mulher usar calça cumprida?”.
O Senhor Jesus não se deteve muito tempo a discutir com eles. Dirigiu-se onde estava um grupo de crianças, colocou-as no colo, com amor acariciou-lhes a cabecinha e beijou-lhes os rostinhos inocentes. O jovem rico ficou emocionado ao ver aquele quadro. Ele nunca poderia imaginar que Jesus fosse capaz de beijar e fazer um carinho. Não era essa a imagem que ele tinha aprendido acerca do Filho de Deus. Pela primeira vez na vida teve vontade de abrir o coração a alguém. Correu quando Jesus já estava saindo da cidade, ajoelhou-se perante Ele e disse: "Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?" (Marcos 10:17).
Ele estava dizendo na realidade: "Bom Mestre, que farei para ser salvo? Eu sinto que estou perdido. Não tenho certeza da minha salvação".
Por quê? Acaso não era um bom membro da igreja? Não cumpria todas as normas? Ah! meu amigo, cumprir mandamentos nunca foi sinônimo de salvação. Ser um bom membro de igreja não quer dizer estar salvo. É, de algum modo, possível obedecer a tudo e estar completamente perdido. Perdido, dentro da igreja!
É possível estar perdido dentro da igreja? Infelizmente, é sim. Existem os que, como no caso desse jovem, estão perdidos fazendo coisas erradas enquanto ninguém vê, mas existe outra classe de perdidos: aqueles que fazem tudo direito, cumprem aparentemente tudo que a igreja pede, vivem preocupados com detalhes de regulamentos e normas, mas estão igualmente perdidos.
O Senhor Jesus tentou levar o jovem do conhecido ao desconhecido. Este foi um tratamento de choque. Aquele jovem conhecia a letra da lei, as normas, os regulamentos. Então lhe perguntou:
- Tu sabes os mandamentos?
- Quais mandamentos Senhor? Perguntou-lhe o jovem.
- Aqueles que estão escritos em Êxodo 20:12-16; ou em Deuteronômio 5:16-20. E, ainda, em Levítico 19:18: “Não matarás, não adulterarás, não furtarás, não darás falso testemunho, não enganarás ninguém, honra teu pai e tua mãe”. E, “amarás o teu próximo como a ti mesmo”.
O jovem então lhe respondeu:
- Mestre, a tudo isso tenho obedecido desde a minha adolescência. O que me falta ainda? Eu sinto que preciso fazer mais alguma coisa para ter certeza da minha salvação.
Cristo olhou com ternura e amou aquele jovem. Viu seus conflitos internos, suas lutas, suas angústias. Viu sua desesperada situação: perdido dentro da igreja, perdido cumprindo todos os mandamentos, perdido obedecendo a todas as normas.
Quando estamos assim, apesar de fazermos muitas coisas, sempre fica aquela sensação de que está faltando alguma coisa, e muito, em nossa justiça. E, aí, a angústia não desaparece, o desespero aumenta, a sensação de estar perdido é cada vez maior.
Reparem que, nesta referência ao Decálogo, Jesus omitiu cuidadosamente o décimo mandamento (Ex 20:17), aquele que condena a inveja, fonte de todas as avarezas.
Sabe qual é seu problema, filho? - disse Jesus - apenas um: você não Me ama. Em seu coração não há lugar para Mim, em seu coração só há lugar para o dinheiro. Você está disposto a guardar mandamentos, mas você não Me ama, e enquanto não Me amar Eu não aceito nada de você. Não adianta guardar mandamentos, cumprir normas, obedecer regulamentos; se você não Me amar, nada disso tem sentido e você continuará com essa horrível sensação, com esse vazio na alma. Vamos fazer uma coisa, Meu querido filho, você agora vai para casa, tira do coração o amor às coisas deste mundo, coloca-Me como o centro de sua vida, então venha e siga-Me.
A Bíblia diz que aquele jovem, “pesaroso desta palavra, retirou-se triste, porque tinha muitas riquezas” (Marcos 10:22). Que tragédia! Estava mais pronto a guardar mandamentos do que amar o Senhor Jesus. Por quê? Talvez porque é mais fácil aparentar que se é bom do que entregar o coração a Deus.
É possível que você esteja pensando: "Felizmente eu não tenho riquezas". Pode ser. Mas, às vezes, não precisamos ter riquezas para destronar Jesus do coração. Seria possível você amar mais um artista de televisão do que Jesus. Um esporte, uma namorada, uma profissão, os estudos, coisas até boas, mas que podem ocupar o lugar de Cristo no seu coração. Pode ser até que você ame mais a sua igreja, a doutrina da sua igreja, o nome da sua igreja, do que o Senhor Jesus.
Pergunto: Qual deveria ser a nossa primeira preocupação, amar a Jesus ou guardar normas? Às vezes, estamos mais preocupados que os jovens obedeçam as normas e não que amem a Jesus. O interesse de Jesus é diferente: "Dá-Me, filho Meu, o teu coração", diz Ele enquanto bate à porta do coração humano.
Há algo que nunca deveríamos esquecer: é possível de alguma maneira cumprir normas sem amar Jesus, mas é impossível amar Jesus e deixar de cumprir as normas. Então, qual deveria ser o nosso primeiro interesse, o nosso grande objetivo? Se o ser humano amar a Jesus com todo seu coração, será incapaz de fazer algo que magoe o seu Redentor. Sua vida, em conseqüência, será uma vida de obediência.
Sabe qual é o nosso grande drama na vida espiritual? Sabe por que não somos felizes na igreja? Falta amor por Cristo. Estamos na igreja porque gostamos dela, a sua doutrina nos convenceu, o pastor fez um apelo irrecusável. Estamos na igreja porque nossos pais querem, ou então, para agradar aos filhos ou a esposa, ou simplesmente porque todo ser humano tem que ter uma religião, mas não porque amamos a Jesus a ponto de dizer: "Eu não posso viver sem Ti".
- Pastor - disse-me uma velhinha certo dia - tenho quase 60 anos de casada. Pode perguntar a meu marido e ele dirá que sempre fui uma esposa perfeita. Fiz tudo o que uma boa esposa deve fazer, agi sempre do modo certo, mas, nunca fui feliz.
- Por quê? - perguntei.
- Eu não amo meu marido, pastor. - Foi a resposta.
- Mas, então, por que se casou?
A velhinha emocionou-se ao dizer:
- Nos meus tempos de mocinha a gente não escolhia marido. Eram os pais quem escolhiam marido para a gente. Um dia meu pai disse: 'Filha, daqui a dois meses você vai se casar com o filho do meu compadre'. O enxoval foi preparado. A festa ficou pronta e, faltando dois dias para o casamento, conheci meu noivo. Não gostei. Nunca consegui gostar, mas casei porque tinha que obedecer. Fui uma esposa perfeita, mas nunca fui feliz.
Como ser feliz ao lado de alguém que não se ama? O batismo é uma espécie de casamento com Cristo. Muitos cristãos talvez pudessem dizer: "Senhor, estou na igreja, batizado há cinco anos, ou dez, ou quinze anos. Nesse tempo todo, de alguma maneira, cumpri o que a igreja pede. Mas nunca fui feliz." Por que? Porque não é possível ser feliz ao lado de alguém que não se ama. Conviver ao lado de alguém que se ama já é uma tarefa desafiante, imagine quando não há amor.
Nunca poderemos ser felizes estando na igreja porque nascemos nela, ou por causa da pressão social, religiosa ou familiar. Todos os motivos só têm algum sentido quando o grande motivo é o amor por Cristo. Se não for assim, a vida cristã se tornará um "inferno", um fardo horrível para se carregar. Fazer as coisas só porque estamos batizados, só porque temos que cumprir as normas de uma igreja que assumimos, só para agradar aos homens é a pior coisa que pode acontecer. Sempre estaremos pensando em sair, abandonar tudo, ou então, quando ninguém vê, estaremos fazendo as coisas erradas.
Todas as normas da igreja, todas as coisas que tenhamos que abandonar, tudo que tenhamos que aprender terá algum significado unicamente quando o amor de Cristo constranger nosso ser. A nossa primeira oração não devia ser: "Senhor, ajuda-me a guardar Teus mandamentos", mas, "Senhor, ajuda-me a amar-Te com todo meu ser".
O jovem rico partiu triste e não voltou mais. Estava pronto a ser um bom membro de igreja, mas não a entregar o coração ao Mestre.
Alguma vez você já se perguntou porque está na igreja? Você acha que Cristo veio a este mundo para que as igrejas cristãs estivessem cheias de pessoas tentando portar-se bem ou Ele veio para que as pessoas fossem realizadas e felizes?
Sabe? Jesus também ama você. Não importa se você é pobre ou rico, se é preto ou branco, se é feio ou bonito. Ele o ama. Ele o compreende. Isso é o que diz a Bíblia. Você é a coisa mais importante para Deus, não importa o momento que esteja vivendo. Você, com suas lutas, com seus fracassos, com seus conflitos, com suas dúvidas e incertezas; você com suas deformações de caráter, com seu temperamento irascível, é objeto de todo amor e carinho de Deus.
Pode ser que em algum momento de sua vida você sinta que ninguém gosta de você, que seus pais não o compreendem, que seus professores não reconhecem seu valor, que a vida lhe negou as oportunidades que deu a outros, que o mundo inteiro não o aceita. Pode até ser que você não goste de você mesmo. Tudo isso pode, de algum modo, ser verdade, mas Deus gosta de você, Ele o compreende. Neste momento, tenha certeza de que Ele está bem perto de você, pronto a ajudá-lo, a socorrê-lo, a valorizá-lo.
Texto com adaptações.

Pr. Alejandro Bullón

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