8 de abril de 2008

PAZ EM MEIO ÀS PRESSÕES DA VIDA


FILIPENSES 4:2-9

Vivemos agonias que se podem respirar na atmosfera. Às ve­zes fico observando que há uma angústia que domina o coração das pessoas - produto psicológico de tanta mortalha, tanta cor roxa, tanto sentimento de luto, tanta fune­bridade no ar, tanta sensação de que a morte nos está de alguma manei­ra muito próxima, uma expectação horrível de que estamos vivendo dias de fim, a nevralgia do contexto só­cio-político-econômico, as ameaças, as transições de momentos históricos e tantas outras situações.
Todas essas coisas culminando, convergindo, crescendo em volta de nós, obviamente produzem uma na­tural ansiedade psicológica e mental para a qual nós crentes em Jesus precisamos ter resposta.
O que me agrada no Evangelho é sua capacidade de falar durante to­dos os momentos históricos, ou seja: o evangelho não é um fenômeno, não é produto apenas de um acontecimen­to, de uma circunstância oriental, nem é algo que surgiu para trazer terapia, remédio, conforto, consolo e cura apenas para o homem antigo. Ele se expressa, se manifesta com a mesma saúde, trazendo as mesmas soluções, oferecendo os mesmos es­capes, dando-nos idênticas soluções que davam ao homem de antigamen­te, só que num contexto de exacer­bada angústia, muita pressão, terrí­vel opressão, num mundo esmagador como este no qual vivemos.
Este texto de Paulo é para mim uma das maiores peças da positivi­dade, do otimismo, da fé concreta que se manifesta no dia-a-dia da vida de um homem de Deus.
“Rogo a Evódia e rogo a Síntique que pensem concordemente no Senhor. E, a ti, fiel companheiro de jugo, também peço que as auxilies, pois juntas se esforçaram comigo no evangelho. Também com Clemente e com os demais cooperadores meus, cujos nomes se encontram no livro da vida. Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez vos digo, alegrai-vos. Seja a vossa moderação conhecida de todos os homens. Perto está o Senhor. Não andeis ansiosos de cousa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas diante de Deus as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graça. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e as vossas mentes em Cristo Jesus. Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento. O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso praticai; e o Deus da paz será convosco.” (Fl 4:2-13)
O interessante é que Paulo nos é apresentado aqui como um modelo de ser humano equilibrado. Sei que não se aprecia muito falar em mode­los humanos fora da pessoa de Jesus. Contudo Paulo se arroga, reivindica a si mesmo a possibilidade de ser uma maquete, um arquétipo pecador do próprio Jesus Cristo, quando disse algumas vezes em suas cartas: se quiserem imitar alguém imitem a mim, pois eu sou também um imita­dor de Cristo Jesus. Diz que ele era um homem caído, pecador, mas mostrava, experiencialmente, que o evangelho não era uma coisa apenas para os imaculados. Ao contrário, era algo tão real, prático, profundo, tão do cotidiano, que ele mesmo, Paulo, com o auxílio, a ação e a presença do Espírito Santo podia ser um imitador de Jesus, viver os seus passos, encamar seu equilíbrio men­tal e emocional no dia-a-dia.
O que me espanta nesta carta aos Filipenses é que Paulo estava preso. É o que vemos no verso 7 do capítulo 1 e também nos versículos 12 e 13, quando ele fala das suas algemas, de seu aprisionamento, de como es­tava aguilhoado - a própria guarda pretoriana o cercava e o guardava. Ele estava em Roma, pois no capítulo 4:22 ele diz: “Todos os santos vos saúdam...”; ou seja, os crentes que Jesus já tinha produzido ali, bem debaixo das barbas do Imperador.
Um homem preso, aguilhoado, é quem diz: “Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, alegrai-vos”. É esse homem sem espaço, passando fome e humilhado, que diz: “Eu tudo posso naquele que me fortale­ce”. Isto me impressiona ainda mais porque o verso 21 do capítulo 1, e o 17 do capítulo 2 nos revelam que Paulo estava na iminência de morrer. No verso 21 ele diz: “Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro”. No capítulo 2:17 afirma: “Eu tenho certeza de que já estou para ser oferecido como sacrifício a favor da fé dos irmãos”.
Ele era um homem ainda forte, entre 50 e 60 anos de idade, que tinha muito a dar de si, mas que não estava desesperado com a possibili­dade de morrer. E ainda: o que muito me impressiona é que Paulo tinha tudo para sentir-se um indi­viduo destruído pelas pressões e ten­sões sofridas até então. Em l Coríntios 11, entre os versos 16 e 30 ele nos apresenta um relatório, narrando o que já fizera pelo evangelho. Seu relatório nada mais é do que a des­crição dos eventos e fatores que mais podem molestar, destruir, esboroar emocionalmente um homem. Toda­via, apesar de haver passado por tudo aquilo, ei-lo no fim da vida equilibrado e afirmando: “Eu tudo posso naquele que me fortalece.” Em 2 Coríntios 11 ele diz que a sua vida toda tinha sido entre muitos traba­lhos, prisões, açoites, ameaças de morte, torturas, apedrejamentos, três naufrágios, tendo permanecido 33 horas nas águas geladas, com cãimbra, no fragor do oceano; e ain­da assaltado várias vezes nas estra­das, traído por amigos - o seu cora­ção de vez em quando sangrava por alguém que o abandonava, muitas noites sem dormir e passando fome.
Além disso, havia a imensa carga emocional pela Igreja. Diz ele: “Quem é que enfraquece, que tam­bém eu não enfraqueça? Quem se escandaliza, que eu não me infla­me?” (2 Co 11:29). E esse indivíduo que tinha tudo para estar debilitado, trêmulo, nervoso, quebrado, pessi­mista, desiludido, golpeado por tan­tas chicotadas, com os dias contados, emparedado, aprisionado, ainda ou­sava dizer: “Eu tudo posso naquele que me fortalece”.
Mas o que me consola é saber que ele era igual a mim: suava um suor como o meu, tinha as mesmas necessidades fisiológicas que eu te­nho, as mesmas lutas de caráter, de emoção e de temperamento, era gen­te como eu, e tudo podia naquele que o fortalecia, e se podia nós também podemos!
Paulo não só nos dá exemplo de um estado mental equilibrado como também nos dá instruções sobre co­mo enfrentar a paz em meio às pres­sões da vida.
Harmonia nos Relacionamentos
Diz ele que a primeira coisa fun­damental que tem que haver é har­monia nos relacionamentos inter­pessoais. Ele inicia esse período de instrução sobre como se pode ter paz, não apenas paz comum, mas a paz de Deus no coração, dizendo: “Rogo a Evódia e rogo a Síntique que pensem concordemente, no Senhor” (Fp 4:2,3.).
Ele aconselha resolver os relacio­namentos interpessoais tensos. “Vo­cês precisam se desamuralhar, des­bloquear”, dizia ele. Evódia e Sínti­que, que representavam dois partidos na Igreja, precisavam se reestruturar fraternalmente e conviver em harmonia no Senhor.
Sabem por quê? Às vezes vivemos a ilusão de que ter paz com Deus não tem nada a ver com ter paz com nossos semelhantes. O problema é que há uma absoluta inseparabilida­de entre esses dois níveis. Tanto que eu só posso dizer que amo a Deus quando amo meu irmão, como essa paz de Deus só permeia meu coração quan­do estou em paz com meus irmãos. É por isso que Romanos 12:18 diz: “No que depender de vós, tende paz com todos os homens”. Paulo não coloca aqui uma espécie de pacifismo pro­míscuo. Ou seja: ter paz com qual­quer homem. Por isso ele diz: “No que depender de vós, tende paz com todos”. Ele mesmo estava vivendo aqui, capítulo 3, verso 2, a proble­mática de não poder ter paz com alguns homens, aos quais ele chama de cães, falsos ministros de Cristo e falsa circuncisão.
Todavia sempre devo andar a se­gunda milha e só então, depois disso, quando a pessoa fecha o coração é que eu não posso mais me respon­sabilizar em manter a relação. Mas no que depender de mim, e até onde for possível, diz Paulo que eu tenho que preservar a paz.
E por que isso? Porque quando se entra em atritos, inevitavelmente cumpre-se Provérbios 14:30, que diz o seguinte: “A inveja é a podridão dos ossos”. Toda desarmonia pessoal acaba produzindo inveja, espírito competitivo, partidarista, e toda in­veja apodrece as entranhas do ser humano. Esse apodrecimento da al­ma produzido por essas divisões e dissensões é o fator mais prepon­derante no que diz respeito a pertur­bar, a destruir, a extinguir do nosso coração a paz que nele deveria haver.
Alegria no Coração

A segunda instrução que Paulo nos dá quanto o conservar a paz é a seguinte: “Alegrai-vos sempre no Se­nhor; outra vez digo, alegrai-vos” (Fp 4:4.). O que Paulo está querendo dizer é que eu devo ter no coração a alegria íntima, produzida ou resul­tante de se ter a Deus como propó­sito, sentido, significado de vida. Por isso ele diz: alegra-te no Senhor, pois Jesus é a fonte dessa alegria. E ela é de Jesus ainda por outra razão; por­que tem em Cristo o seu tema: pensa nele, está impregnada dele, pelo que ele fez na cruz. É aquela alegria do tipo que às vezes eu sinto quando estou no carro, atravessando um tú­nel, ou só em casa, e algo começa a querer explodir no coração. Nesse momento a gente sente ímpetos de gritar: “Aleluia!”. Não há nin­guém por perto, nem música tocan­do, nem pastores pregando. Você e ele estão geminados em profunda comunhão. É essa alegria que tem em Cristo a sua fonte, e tem nele o seu tema - a alegria no Senhor.
E mais ainda: a alegria no Se­nhor é aquela que tem em Cristo o seu alvo. Ela não só vem de Jesus e existe porque ele é seu tema, como também se dirige ao Senhor. Ela existe em circulo: vem dele e volta para ele. E é essa alegria que tem significado na vida; essa alegria que brota do intimo como fonte é que é fator fundamental, imprescindível para que no nosso coração haja paz, mesmo em meio às questões do exis­tir.
Moderação no Temor do Senhor

A terceira instrução está no verso 5: Paulo diz que eu preciso ter mo­deração produzida pelo temor do Senhor. Diz ele: “Seja a vossa mode­ração conhecida de todos os homens. Perto está o Senhor.” Essa modera­ção manifestada, essa disciplina re­velada com uma base, uma causa: o Senhor está perto. E perto em dois sentidos: a proximidade do Senhor é um fato - ele anda comigo para onde quer que eu vá; ele me impede de ser um glutão mesmo a portas­-fechadas e no meio das mais densas trevas, sem olho nenhum me obser­vando, porque ele está perto de mim. Mas está perto também no sentido escatológico: breve virá. E o meu coração deve sempre estar tomado e possuído por esse sentimento de vigilância, de presteza e disciplina. Moderadamente, é como tenho que viver.
Essa moderação é em primeiro lugar espiritual. Ela não traz consigo fanatismos, radicalismos, extremis­mos, legalismos, mas saúde e disci­plina espiritual. Ela é comportamen­tal, mas não produz exageros mora­listas. Essa moderação deve ter o sentido de equilíbrio emocional. Ela não é emocionalista, mas se contém. Esta é a disciplina eminentemente salutar que existindo em nosso cora­ção nos ajudará a mantermos a paz, mesmo em meio às pressões da vida, pois quem não é moderado não equi­libra as emoções e o domínio próprio para enfrentar o cerco da existência.
Liberdade das Ansiedades
A quarta instrução está no verso 6. Ele nos aconselha a liberação da ansiedade pelo canal da oração. Diz ele: “Não andeis ansiosos de cousa alguma; em tudo, porém, sejam co­nhecidas diante de Deus as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graça” (Fp 4:6.). Em Provérbios 14:30 está dito: “O âni­mo sereno é a vida do corpo...”.
Em outras palavras: o espírito que se acalma, que não anda dominado pe­la angústia, em agitação tremenda é a própria vida do corpo. Um espírito sereno, um ânimo manso não destrói o sistema nervoso. Um coração que não anda tenso por ódios, desconfi­anças, malquerenças não pode pro­duzir doenças psicossomáticas. O â­nimo sereno é a vida do próprio corpo.
E Paulo diz: liberem toda carga de ansiedade que vocês acu­mulam na existência pela via da ora­ção. Pela súplica, pela petição, com ações de graça, na presença de Deus. Esse é o canal, esse é o “ladrão do poço” por onde se derrama todo o excesso; por onde se extravasa toda substância de ansiedade que possa estar sendo contida no coração. Paulo recomenda que seja sobretudo pela oração; embora haja outros me­canismos, como lazer, esporte, traba­lho, criatividade, etc. Mas tem que ser acima de tudo pela oração. Por que pela oração?
1. Porque ela nos coloca diante do Único que pode nos ajudar a resolver aqueles problemas que são maiores do que nós. É exatamente isso que ele diz aqui no verso 6. A preocupação só nos vem à lembrança quando somos confrontados com al­guma dificuldade maior do que a nossa capacidade de resolver. Quan­do você tem dinheiro no bolso e alguém lhe comunica que uma du­plicata venceu, isso não lhe cria qual­quer problema: basta puxar o di­nheiro do bolso... Mas quando você mete a mão e só encontra um lenço, a coisa se complica: suas entranhas se revolvem, seu estômago dá um nó, a aflição vai tomando conta... Mas pe­la oração, único canal que nos coloca diante do Único capaz de resolver as dificuldades, nós encontramos a úni­ca saída. Os problemas menores do que nós, nós resolvemos, em nome de Jesus; e os maiores Ele resolve por nós, em seu próprio nome.
2. Porque a oração é o melhor e mais eficiente desabafo psicológico. Você chega diante do Senhor e depo­sita a seus pés a pesada carga, todas as suas duplicatas, suas dividas, a­meaças, confusões, tudo enfim que o perturba. A oração funciona assim como um desabafo, como o melhor veiculo desafogo psicológico que exis­te na face de toda a terra.
3. Porque a oração com ações de graça é absolutamente incompatível com a retenção da ansiedade. O que me parece interessante é que Paulo não diz unicamente “pela oração e pela súplica”, mas acrescenta: “e com ações de graça”. O fato é que, onde há gratidão há descanso. Só está grato quem já está com o 'fio da solução. Só é grato quem está de posse do que Deus vai fazer; só agra­dece quem pode dizer: “Obrigado, porque já resolveste”. Por isso é que não é só pela oração.
Há muita gente que coloca suas ansiedades diante de Deus e se levanta da prece pior do que quando se ajoelhou; levanta mais aflito, mais angustiado ainda, pois não é capaz de deixar sua carga ao pé do altar, com espírito grato; não é capaz de dizer: eu te louvo, Senhor, porque vais resolver tudo; porque já estás tomando conta do meu problema. Não é capaz de dar um basta à ansiedade com ações de graça. Só ações de graça na oração é que não torna possível a retenção da ansiedade.
Atitude Mental Higiênica
O último princípio que o apóstolo Paulo nos ensina está nos versos 8 e 9. Ele nos estimula a conservação de uma atitude mental higiênica. Isto é maravilhoso. Observe a sua declara­ção: “Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é res­peitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pen­samento. O que também aprendes­tes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso praticai; e o Deus da paz será convosco.”
A introdução apostólica com um “finalmente” é prova de que o que ele está ensinando é mais um princí­pio de como ter paz. Ou seja, eu preciso conservar uma atitude men­tal higiênica: encher a minha mente de todas as qualidades supra, de todas as manifestações e virtudes es­pirituais que o apóstolo recomenda. Sem dúvida este é um grande exercício!
E sabe você por que há fortíssimas razões para se conservar essa atitude mental higiênica?
Em primeiro lugar, porque nun­ca seremos maiores do que aquilo que pensamos. Quando a nossa men­te não consegue ver coisas grandes; quando a nossa mente só trabalha com o que é mesquinho, medíocre, negativo, derrotista, destrutivo, aze­do, emparedado, frio, gélido, frágil e frouxo; com o que não é verdadeiro, não é belo, não é respeitável, não é justo, não é puro, não é mavioso, não é inspirador, não é perfumoso e sau­dável, não é largo, amplo, não é construtivo ou de boa fama, então tudo o que vamos conseguir vai ter a altura e a largura do que pensamos e vivenciamos.
Basta observar, em qualquer si­tuação da vida, dentro ou fora do cristianismo, as pessoas que galga­ram posição naquilo que amam, na­quilo que fazem. Todos pensam com grandeza.
Quando eu vejo o que Deus pode fazer em mim; quando digo como Spurgeon disse, que “o mundo ainda está para ver o que Deus pode fazer com o homem posto totalmente em suas mãos”; e quando a minha men­te se deixa invadir por grandes coi­sas; e quando estou ocupado com bonitos e elevados pensamentos, na minha esfera e no meu nível de ati­vidade - podem ter certeza de que estou oferecendo ao Espírito Santo uma excelente substância, um exce­lente material para que ele faça em mim o melhor. Ele me regenerou independente disso; ele me salvou independente disso, mas eu só cresço dependendo disso. Só conservo a saú­de mental dependendo disso; só pro­grido dependendo disso.
Em segundo lugar, é porque transmitimos o que pensamos. Te­mos muito medo de falar em telepa­tia. Mas eu não estou falando em telepatia, mas em leitura do pensa­mento. Estou dizendo é que nós irra­diamos, transmitimos o que pensa­mos. Isso é um fato. As pessoas à volta não sabem o que penso, mas elas sentem no mundo subconsciente o que eu tenho na cabeça - ainda que nem sempre se dêem conta disso. Mas há uma percepção instintiva do que tenho na mente. Elas não podem dizer conscientemente, a menos que tenham desenvolvido essa aptidão pela experiência, pela perscrutação da própria alma. Quase nunca têm a possibilidade de dizer: fulano é um individuo soturno, negativo, feito a hiena do desenho animado, que diz: “Ó dia, ó mês, ó ano, ó azar!...”. Nem todos dizem isso, mas quando o individuo tem um pouquinho de sen­sibilidade ele começa a notar quem é que está impregnado de absinto à sua volta. E normalmente - você vai ver - essas pessoas que têm essa atitude mental não higiênica são as que mais têm dificuldade de relacio­namento. São pessoas que não preci­sam sequer falar com alguém, pois já vão chegando e vão num certo senti­do espantando, afastando, dando adeus psicológico. São mal-vindas.
Conheço um pastor chamado Benvindo. Disse a ele numa brin­cadeira: você é o único homem que mesmo na saída está chegando. Ele riu e perguntou a razão. Porque ­ respondi-lhe - mesmo quando você vai embora eu digo: Adeus, Benvin­do... Parece até uma contradição. O fato é que - aproveitando a brin­cadeira - todos nós deveríamos ter essa marca de bem-vindo na testa.
Há ainda um terceiro fator: as pessoas que atraímos são atraídas em função do que temos na cabeça. Repelimos aquelas que pensam de modo diferente, mas atraímos as ne­gativas como nós. É por isso que as pessoas que só olham para baixo, cuja mente só está impregnada de coisas negativas, desabafam: “Eu não sei o que que há comigo! Só chega gente pesada, rabugenta, can­sativa perto de mim. Quanto mais eu rezo, mais assombração me aparece... não gosto de gente assim, mas só me aparece esse tipo de pessoas!...”. Elas não sabem que atraem... Pes­soas que vivem pensando que vão ser assaltadas são assaltadas. Não tenha a menor dúvida disso. Gente que vê ladrão em cada esquina, acaba atra­indo ladrão. Se até uma árvore pode sentir o espírito negativo de uma pessoa, quanto mais um ser humano! Hoje há instrumentos de detecção que podem ser colocados no caule das árvores, e está provado que quan­do passa um individuo com um ma­chado na mão, com a intenção de cortá-las, elas chiam. Elas têm um nível mínimo de sensibilidade, e cap­tam. Há pessoas que matam jardins inteiros dizendo “eu não gosto de planta”. Isto é fato. Quando se diz que fulano “tem mão boa para plan­tar” isto no fundo é verdade. Não é mão boa que a pessoa tem; é amor! A pessoa tem amor pelo que faz, põe entusiasmo no que elabora; olha di­ferente para as coisas. Por que o ca­chorro conhece quem tem medo de­le? Ele sabe, à distância, quem ele pode manipular e quem não pode.
Portanto, é importante conservar uma atitude mental higiênica, pen­sando em tudo que é bom, respeitá­vel, justo, de boa fama, porque nun­ca seremos maiores do que aquilo que pensamos, porque transmitindo o que pensamos atraímos pessoas semelhantes a nós.
A conclusão disso tudo é que eu tenho paz com Deus no dia em que sou regenerado, no dia em que sou justificado, no dia em que cri em Cristo como meu Senhor e Salvador. Nesse dia tenho paz com Deus. Nele cumpre-se Romanos 5:1: “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo”.
Mas uma coisa é ter paz com Deus, e outra é ter a paz de Deus, que excede todo entendimento. Uma coisa é eu ter paz com minha esposa, ou espo­so; outra é ter a serenidade da minha esposa no meu coração. Uma coisa é estar de bem com Deus; outra é ter a fortaleza, a saúde e o equilíbrio de Deus na minha vida.
A maioria de nós tem paz com Deus, mas não tem vivido a realidade da paz de Deus, que excede todo o entendimento, e que pode guardar a nossa mente e o nosso coração em Cristo Jesus, nosso Senhor. Paulo diz: “Você quer ter a paz de Deus no coração? Então tenha harmonia nos seus relacionamentos; tenha alegria íntima, proveniente de ter a Deus como propósito, sentido e significado de sua vida. Tenha moderação, com base no temor do Senhor. E ainda: libere as suas ansiedades pelo canal da oração, e da gratidão. E em últi­mo lugar, conserve uma atitude men­tal higiênica. E assim a paz de Deus, que excede todo entendimento, guar­dará os vossos corações e as vossas mentes em Cristo Jesus. E Paulo ter­mina dizendo: “E o Deus da paz será convosco”. Amém!
A Palavra de Deus ensina que podemos ter uma mente equilibrada. Muitos de nós temos chegado à igre­ja muito doentes. Herdamos marcas, feridas, golpes que a existência nos deu no curso de anos. Mas Jesus quer ir curando, aprumando, fortalecen­do, equilibrando a nossa mente.
Tudo deve começar com uma ati­tude de harmonia nos relacionamen­tos interpessoais. Será que você está em paz com os irmãos? Ou você anda chocado, magoado com al­guém? Quem sabe com ciúme ou inveja. Cuidado: a inveja é a podri­dão dos ossos. Ela consome o sangue, ela produz aquilo que Paulo chamou de inerte excitação patológica; fixa­ção de uma idéia que gira a mente a mil por hora. Você só pensa na pes­soa de quem você tem inveja. Sua paz vai embora, seu interior apodre­ce. Faça paz com os irmãos, com os filhos, os conhecidos, o marido. Te­nha paz com os homens. Não guarde tensões por relacionamentos rompi­dos por sua causa. Faça acordo com o irmão. Alegre-se no Senhor. Volte-se pa­ra Jesus e faça esta oração:
Jesus, tu és a fonte da minha alegria; tu és o tema, o alvo da minha alegria. Se­nhor, eu quero ser disciplinado, mo­derado, com base no temor do Se­nhor. Tu estás perto. Quero ter mo­deração espiritual. Não quero que os homens me vejam como um aliena­do, um louco, um fanático, que não diz coisa com coisa. Quero ter mode­ração comportamental, não quero ser exagerado, extravagante. Quero ter moderação, disciplina emocional, em todos os sentidos. Não quero ser inerte e petrificado em relação aos sentimentos que devem passar por meu coração. Ajuda-me a descarre­gar a ansiedade pelo canal da petição e a súplica, e a agradecer, pela cer­teza de que já recebi. Porque eu entendo, Senhor, que só as ações de graça me permite não reter a an­siedade. Senhor, ajuda-me a conser­var uma atitude mental higiênica, para que eu seja o que tu queres fazer em mim. Para que eu ofereça a ti bons pensamentos sobre o que queres fazer em mim. Porque quan­do o teu Espírito invade o nosso co­ração, os jovens têm visões e os ve­lhos sonham, a mente é renovada com novos pensamentos, idéias lim­pas e lindas. Porque eu quero que as pessoas recebam de mim boas coisas, boas dádivas, Senhor, e porque não quero atrair calamidade, e sim bên­çãos. Eu quero a paz de Deus, que excede as circunstâncias e que exce­de as contingências. E quero que essa paz guarde com saúde o meu coração, nas suas emoções, nos seus afetos, nos seus sentimentos; e a minha mente, nos seus raciocínios, na sua maneira de ver a vida e o mundo, sem patologias, sem fixa­ções, sem obsessões, sem deformi­dades. Ó Deus, traze a tua paz à minha mente e ao meu coração, em nome de Jesus! Amém!

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA


ARAÚJO FILHO, Caio Fábio D'. Paz em meio às pressões da vida. Revista Mensagem da Cruz, Belo Horizonte, n. 81, p. 1-12, out. 1988 a mar. 1989.

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